Alex dos Santos Gonçalves jogador foi notificado pela polícia e teve o passaporte retido na imigração.
Angústia. Esse é o sentimento com o qual Priscila Gonçalves convive em cada segundo da sua semana. Desde outubro ela trocou o dia pela noite para acompanhar a situação de seu marido, Alex dos Santos Gonçalves, jogador que atua na Indonésia e está impedido de retornar ao Brasil. O imbróglio começou após ele recorrer à Fifa reivindicando o pagamento de valores que tinha que receber de seu ex-clube. O drama vivido pelo atleta e pela família ainda não tem sinais de que a solução se avizinha.Baiano radicado em Porto Alegre, Alex teve o passaporte detido pela imigração e foi notificado pela polícia, o que o impede de voltar para cá. A notificação vence em 27 de dezembro, mas pode ser prorrogada por mais 20 dias. A família reclama da falta de informação sobre o caso por parte das autoridades.
Em 2020, o jogador, com passagem pelas categorias de base de Inter e Grêmio, assinou contrato com o Persikabo, clube contra o qual entrou com ação na Fifa. Devido à pandemia, o clube decidiu descontar 75% dos salários sem fechar um acordo formal com Alex. Na sequência, o baiano deixou o país asiático, foi jogar na Malásia e retornou para a Indonésia, agora para defender o Persita Tangerang. O problema começou quando precisou renovar o visto de trabalho, ainda vinculado ao seu primeiro clube no país. O documento foi enviado à imigração, de onde não retornou mais.
— Está bem difícil. É tudo muito obscuro. Troquei meu fuso-horário pelo de lá. Não durmo, não como, não faço nada. Tem dias que acordo assustada para ver se tem alguma mensagem no celular — relata Priscila.
Por indicação da embaixada brasileira a Indonésia, Alex contratou um advogado local. Porém, acredita-se que pela pouca quantidade de informação repassada por ele, que pouco esteja sendo feito para resolução da situação. Há o temor de que os 60 mil dólares (R$ 340 mil) ganhos na ação protocolada na Fifa tenham de ser destinados aos honorários do advogado.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro informou que a Embaixada do Brasil na Indonésia se reuniu com autoridades do país para encontrar uma solução. A postagem, segundo Priscila, não alterou o panorama.
O Persikabo é um clube ligado aos militares do país. O presidente Bimo Wirjasoekarta pressiona para que o brasileiro abra mão dos valores a receber. Ele acusa Alex por difamação, razão para polícia ter emitido a notificação que o impede de deixar a Indonésia — ele também teria de conseguir um outro passaporte.
O Persita Tangerang, clube ao qual Alex está vinculado, ofereceu uma rescisão de contrato, que não foi assinada, e não tem prestado nenhum tipo de auxílio. Como ainda há o vínculo, existe a esperança de que o salário do jogador seja depositado no próximo dia 25.
— É uma luta muito injusta para o Alex. Ele está lutando contra todo mundo lá. Espero que não deixem isso tudo chegar a uma situação extrema. Estamos pedindo ajuda desde outubro. Ele não fez nada de errado e é tratado como se tivesse cometido um crime grave — reclama Priscila, casada com Alex há 12 anos.
Na quinta-feira (16), Adrian, filho do casal, completou nove anos. O presente que o guri queria receber não chegou.
— Ele pediu que o presente ter o pai de volta. Ele já entende o que está acontecendo — revela.
Até o início da pandemia, Priscila e Alex estavam juntos na Indonésia. Depois, os dois retornaram para Porto Alegre. Quando o jogador foi atuar na Malásia, ela acabou ficando no Brasil. Eles não se encontram pessoalmente desde janeiro.
— Ele está destruído, acabado física e psicologicamente — conta.
O reencontro, por enquanto ainda não tem data marcada.