A chuva de segunda-feira expôs situação preocupante quanto a obras públicas entregues não faz muito tempo em Fortaleza. No Mondubim, túnel do Metrofor inaugurado há pouco mais de dois anos ficou completamente tomado por água. Também naquela área, ficou alagado o posto de saúde municipal Pedro Celestino Romero, que passou por ampla reforma e foi entregue em outubro do ano passado – não faz nem seis meses. Sem falar do caso mais grave, no Hospital Geral, reformado há três anos, onde parte do teto da emergência cedeu devido à chuva. Sem falar das ridículas imagens de goteiras sobre pacientes (veja aqui (http://bit.ly/1lmmDc5). Não são os únicos casos. O túnel da avenida Rogaciano Leite, próximo ao Iguatemi, construído pelo Estado, enfrentou alagamento na semana passada. Ele havia sido liberado para tráfego ainda em novembro. Uma semana depois, já apresentava infiltrações e passava por reparos. Quanto ao problema da semana passada, motor que deveria bombear a água para fora apresentou defeito – mesma possível causa do problema ocorrido na segunda no Mondubim.
Não são os únicos casos, infelizmente, de problemas em obras públicas construídas ou reformadas havia pouco tempo. A coluna já citou o caso do canal do rio Granjeiro, no Crato, cuja primeira etapa da obra de restauração em função da chuva de 2011 foi destruída pelas precipitações de 2012. Naquele mesmo ano, foi autorizada reforma da Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) de Itaitinga, inaugurado menos de três anos antes, mas que já passara por três grandes fugas. Também já citei o estado calamitoso em que estava CE-168, entre Itapipoca e Itapajé, em meados de 2011, dois meses após ser entregue. No ano passado, foi a marquise do Hospital Regional Norte, em Sobral, que desabou menos de um mês após a inauguração e antes de começar a funcionar de fato – o que até evitou que o acidente tivesse consequências mais graves.
Cada caso tem circunstâncias específicas, explicações próprias e os técnicos logo trazem esclarecimentos que justificam ser tudo absolutamente dentro da normalidade. Parece-me claro que não deveriam ocorrer. Na maioria desses casos – quando há ridículos meses de diferença entre inauguração e problema – a construtora é chamada a fazer os reparos sem ônus para o Estado.
Citei alguns casos, mas há outros diversos. Vale lembrar o caso da adutora de Itapipoca, que antes mesmo de ser entregue apresentou problemas que deixou grande parte da população sem água por semanas. Três envolvidos acabaram indiciados pela Polícia Civil. Ou seja, não teria sido apenas negligência, mas crime mesmo.
É importante o gestor público estar muito atento à qualidade dos trabalhos entregues. Afinal, o administrador é também vítima das possíveis porcarias entregues à população. Ou isso ou algoz.
A CHUVA E AS CULPAS
O secretário-executivo da Secretaria da Saúde, o ex-deputado estadual e ex-prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, comentou o problema no Hospital Geral: “Todo cearense pede pelas chuvas. Mas sempre que ela vem para o bem, também causa malefícios”. Errado. A chuva, realmente, traz transtornos, mas por falta de preparo para enfrentá-la. O teto de hospital desabar com a água que cai não é culpa da condição climática, mas da estrutura falha que não suportou a chuva que foi a maior do ano, mas isso num contexto de seca prolongada. Não foi propriamente uma tempestade devastadora que atingiu Fortaleza.